No primeiro dia, num edifício logo à
entrada, do lado direito, tinha lugar a distribuição dos bibes e
das sapatilhas brancas, de acordo com as nossas medidas. Lembro-me
que adorava aquele cheiro das sapatilhas novas.
Os dias eram passados mais ou menos
assim: pequeno almoço, recreio no pinhal, onde uma das diversões
era levantar pedras para vermos aparecerem escorpiões, apanhar e
partir pinhas sobre as rochas para vermos aparecerem os pinhões,
brincar às escondidas e outros jogos. Depois, regressávamos às
camaratas para nos lavarmos de onde as vigilantes nos encaminhavam para o refeitório. Acabada a refeição vinha a parte mais chata: uma hora na cama de braços
estendidos e barriga para o ar. Era o repouso. E havia castigos para
os mais irrequietos que, de tão irrequietos, do castigo ainda se riam!
Passado o repouso, ficávamos a brincar ali nas imediações das
camaratas até ao lanche e depois do lanche a mesma coisa até ao
jantar. De vez em quando aparecia um vendedor de brinquedos e os que
tinham dinheiro compravam automóveis, comboios, ambulâncias,
camiões com gruas, tudo de lata. Os mais pobres recorriam à
imaginação e, com um canivete, tábuas de caixotes ou cortiça, construíam os seus próprios
brinquedos.
Às vezes, também, conseguia iludir as
vigilantes e corria até ao fundo da mata onde ficava algum tempo encostado à vedação a
ver os carros na estrada alcatroada que passava
perto. E começava a imaginar se aquela estrada iria dar
à Moita!!! Podia ir e não mas certo, certo, hoje a minha imaginação foi dar a Mangualde!