sábado, 27 de agosto de 2016
sábado, 20 de agosto de 2016
Passos da vida
Sobre a recente morte do grande “Senhor Atletismo”,
professor Moniz Pereira, tem-me andado a bailar na ideia aquele torneio de
atletismo denominado “Primeiro Passo”, que o Sporting organizava todos os anos
em Outubro no antigo estádio de Alvalade e em que participavam equipas de norte
a sul do país. O Sporting organizava, mas o professor era o dono da ideia.
Muitos campeões dali saíram. Eu próprio poderia ter sido um deles pois,
terminado o torneio de 1963, recebi um convite que ignorei devido a
problemas pessoais de vária ordem. Aliás, já a ida ao torneio foi um grande
sacrifício! Tempos em que um tostão era uma fortuna! Mas, é pelo caricato dessa
participação minha e de mais meia dúzia de conterrâneos, que me lembro com
saudade!
Resolvemos um dia formar uma equipa e procedemos à
inscrição da mesma, tendo eu tomado a
iniciativa de contatar o Sporting. A inscrição foi confirmada poucos dias
depois e começámos a treinar diariamente num campo que havia ali nas imediações
do que já foi a panificadora da Moita do Norte. Já muito perto da data do
torneio, começámos a “coçar” a cabeça, pois lembrámo-nos de que não tínhamos
equipamentos! De repente, um dos elementos do grupo, de nome Abel, que acho que
era o mais esperto, perdoem-me os outros que eu também me perdoo, prometeu
tratar do assunto e não tardou em aparecer com umas camisolas e uns calções
brancos que tinham inscrito o nome de Sporting Clube Barquinhense. Já não
recordo se a inscrição tinha sido feita em nome de Moita do Norte ou de
Sporting C Barquinhense, de qualquer modo participámos e não houve problemas.
Na véspera do torneio, 2 de Outubro de 1963, havia baile
no Clube União e Recreios de Moita do Norte e nós não podíamos faltar. Era uma
idade em que as raparigas, bonitas e de saias curtas, davam volta às nossas
cabeças. Dançavam os que sabiam dançar, bebiam e fumavam os outros pacóvios
como eu ou simplesmente…controlavam as saias. Acabado o baile ou quase,
decidimos que não valia a pena ir a casa. Não podíamos correr o risco de
adormecer. O comboio era muito cedo e o torneio começava às nove, salvo erro. Encaminhámo-nos
então, a pé, para a estação ferroviária do Entroncamento que ficava a uns 3
quilómetros, passando pelas tenebrosas “Oliveiras Grossas”.
Àquela hora, talvez 3 da madrugada, o recinto da estação
era um ermo, não se via uma alma. Viam-se sim alguns comboios parados e de
portas abertas. Entrámos para uma carruagem e acho que dormimos uma ou duas
horas, sobre uns bancos de madeira que na altura sabiam a fofos colchões!
Eram entre as 7 e as 8 da manhã , já deambulávamos pelo
jardim do Campo Grande. Lembro-me de que havia ali uma tasca chamada
“Quebra-bilhas” e que lá bebemos e comemos qualquer coisa, tendo ido depois
para o estádio, mesmo ali a dois passos. Não falhámos! Chegámos a tempo. Mas
foi quase a cambalear, ébrios de sono, que percorremos os corredores que davam
acesso aos balneários do clube dos nossos ídolos. Por nós passava um imenso e
variado colorido de equipamentos de todas as equipas. A entrada na pista foi um
êxtase. A bancada central, onde os sócios do Sporting assistiam aos jogos de
futebol, estava repleta. Já decorriam algumas provas quando nos vimos na pista
de atletismo. Estávamos ali e, curiosamente, não me lembro de ter sentido
alguma espécie de nervosismo.
Cada um de nós participava em duas provas. As minhas eram
o salto em comprimento e os 80 metros (para jovens não havia 100 metros). Foi
esta prova de velocidade que me valeu ter recebido depois um convite do
gabinete de Moniz pereira. A outra, a do salto em comprimento, teria corrido
bem se, nas 3 tentativas, não tivesse pisado sempre o risco de chamada! E lá
estava o recordista nacional na altura, Pedro Almeida, com a fita métrica na
mão a piscar-me o olho e a encolher os ombros num simpático gesto de conforto.
Lembro-me quanto aos outros que o Manuel Esperança e o Abel também se portaram
muito bem, mas estes noutras provas. O único que desistiu foi o Pinho que
deveria correr, salvo erro, os 5000 metros ou algo assim e foi bastante
engraçado: Depois de dar uma volta à pista, atira-se para o relvado e diz:
“Corram vocês!!!”
Bom, mas para quem esteve num baile, dormiu na estação e
quase não comeu, fomos uma espécie de “Viriatos”!
segunda-feira, 15 de agosto de 2016
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