A propósito de armas e munições, às
vezes dá-me vontade de rir. Na primeira emboscada em que a minha
companhia caiu, quando em serviço na Guiné, perdi logo três
granadas que levava penduradas no cinturão, tal foi o entusiasmo e a
força com que corri para me proteger junto a uns arbustos que nem
protegiam nada. Ao fim e ao cabo nem precisava delas pois a minha
missão era o rádio e mantê-lo debaixo de olho assim como ao homem
que o transportava à laia de mochila. Não precisei de justificar
esse desaparecimento de munições porque, na realidade houve
tiroteio forte e feio e, se alguém teve de justificar, não terá
tido problemas. Problemas poderia ter tido o comandante de um
destacamento onde estive, caso não tivesse inventado um forte ataque
“terrorista” no início de um determinado anoitecer. Como ninguém
me tinha informado do que se ia passar, (soube depois que foi
propositado – para que eu fosse realista ao transmitir a mensagem)
dei um salto da cama quando uma granada de morteiro caiu sobre o
abrigo e uma rajada de balas sobrevoou os céus, levando-me a demorar
algum tempo a acender o candeeiro que era uma garrafa de petróleo.
Tinha que avisar de imediato o comando do batalhão, sediado a cerca
de 20 km. Enviada a mensagem e dadas as coordenadas do fogo
“inimigo”, começaram a voar obuses vindos do lado do batalhão.
O pessoal do pelotão ali destacado, que gostava de ir à caça
quando lhe dava na mona, viu-se assim dispensado de justificar tanto
gasto de munições!!! Agora quando ouço o sr ministro da defesa
dizer que se calhar nem houve assalto nenhum aos paióis de Tancos,
lembro-me com saudade deste episódio ocorrido lá nas matas da
Guiné! E só cá para mim digo que o sr ministro é capaz de ter
razão ao dizer que, se calhar, nem houve assalto nenhum!
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