terça-feira, 26 de setembro de 2017

Se calhar...

A propósito de armas e munições, às vezes dá-me vontade de rir. Na primeira emboscada em que a minha companhia caiu, quando em serviço na Guiné, perdi logo três granadas que levava penduradas no cinturão, tal foi o entusiasmo e a força com que corri para me proteger junto a uns arbustos que nem protegiam nada. Ao fim e ao cabo nem precisava delas pois a minha missão era o rádio e mantê-lo debaixo de olho assim como ao homem que o transportava à laia de mochila. Não precisei de justificar esse desaparecimento de munições porque, na realidade houve tiroteio forte e feio e, se alguém teve de justificar, não terá tido problemas. Problemas poderia ter tido o comandante de um destacamento onde estive, caso não tivesse inventado um forte ataque “terrorista” no início de um determinado anoitecer. Como ninguém me tinha informado do que se ia passar, (soube depois que foi propositado – para que eu fosse realista ao transmitir a mensagem) dei um salto da cama quando uma granada de morteiro caiu sobre o abrigo e uma rajada de balas sobrevoou os céus, levando-me a demorar algum tempo a acender o candeeiro que era uma garrafa de petróleo. Tinha que avisar de imediato o comando do batalhão, sediado a cerca de 20 km. Enviada a mensagem e dadas as coordenadas do fogo “inimigo”, começaram a voar obuses vindos do lado do batalhão. O pessoal do pelotão ali destacado, que gostava de ir à caça quando lhe dava na mona, viu-se assim dispensado de justificar tanto gasto de munições!!! Agora quando ouço o sr ministro da defesa dizer que se calhar nem houve assalto nenhum aos paióis de Tancos, lembro-me com saudade deste episódio ocorrido lá nas matas da Guiné! E só cá para mim digo que o sr ministro é capaz de ter razão ao dizer que, se calhar, nem houve assalto nenhum!

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